segunda-feira, 8 de novembro de 2010

NOTA


Sobre a recente ocupação das lideranças indígenas à sede da FUNASA em Rio Branco,
 A COIAB - Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira vem por meio desta declarar total e irrestrito apoio aos povos indígenas do Acre que sobrevivem ao descaso da FUNASA enquanto aguardam inquietos pela implementação da Secretaria Especial de Saúde dos Povos Indígenas.
Alertamos a sociedade brasileira que a vergonha se instala na saúde indígena no Acre. É revoltante a forma com que vem sendo tratada essa questão na Amazônia. No Acre, são cerca de 1,3 milhões de reais que deveriam ser destinados à melhoria no atendimento à saúde desses povos. Não é possível que essa verba destinada aos povos indígenas do Estado não seja aplicada de forma correta e eficaz. Não é justo que as nossas crianças paguem com a vida, pela cobiça de gestores irresponsáveis.
Denunciamos que a CASAI em Rio Branco não atende as condições básicas para o recebimento e tratamento dos indígenas. O descaso e a falta de respeito para com os doentes é uma reclamação constante, além da falta de material, comida e remédio para os pacientes internados que, saem do seio da floresta já descrentes da medicina natural e apelam para a saúde pública que é Direito do povo brasileiro, de todos os povos que constituem essa nação chamada Brasil.
Aos povos indígenas do Acre a COIAB reafirma o seu compromisso com as causas do movimento indígena e acreditamos na luta de vocês parentes.
"Unir para organizar, fortalecer para conquistar"
Saudações Indígenas,
Coordenação Executiva da COIAB

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

CARTA PÚBLICA AOS PRESIDENCIÁVEIS

 A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), instância nacional que congrega organizações indígenas regionais - Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB); Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME); Articulação dos Povos Indígenas do Sul (ARPINSUL); Articulação dos Povos Indígenas do Pantanal (ARPIPAN); Grande Assembléia do Povo Guarani (Aty Guasu) e Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste (ARPINSUDESTE), face ao momento político-eleitoral em que os candidatos à Presidência da República apresentam propostas que afetarão o futuro do Brasil e o destino de todos os brasileiros e brasileiras, sendo os povos indígenas também cidadãos desta nação, vem por meio da presente carta pública reafirmar o direito de reivindicar do Estado Brasileiro o atendimento às demandas que historicamente tem pautado a luta dos nossos povos, na defesa de suas terras, identidade e culturas.

Depois de mais de 20 anos em que a Constituição Federal reconheceu o caráter multiétnico e pluricultural do país, portanto, o nosso direito à diferença e todos os direitos nela consagrados, lamentavelmente os nossos povos continuam sendo vítimas de um contexto político adverso, marcado pelo preconceito, a discriminação e o racismo de uma sociedade etnocêntrica, pretensamente monocultural, homogeneizante, e de um Estado preso à  “razão” instrumental do mito do “mercado” e de um tipo de desenvolvimento  e extrativismo marcado pelo sonho do crescimento ilimitado baseado na destruição da Mãe Natureza.

A partir desta matriz neocolonial, setores ou representantes do latifúndio, do agronegócio, das mineradoras, das madeireiras, dos grandes empreendimentos ou dos próprios governos têm se articulado para reverter os direitos constitucionais dos povos indígenas e tomar por assalto as terras indígenas e os recursos naturais, hídricos, da biodiversidade e outras potencialidades, incluindo uma das maiores diversidades étnicas do planeta, que há milhares de anos preservamos.
Os nossos povos continuam ainda sendo tachados não só  de entraves ao chamado desenvolvimento e progresso do país, mas como ameaça à integridade e unidade política e territorial do Estado brasileiro. Nos acusam  de estarmos empreendendo processos separatistas ou independentistas que atentam contra a soberania nacional. A autonomia dos povos, porém, reconhecida pela Constituição Federal e pela Declaração das Nações Unidas, não se confunde nem deve ser confundida com intenções separatistas. Nós, os indígenas, somos cidadãos brasileiros, sim, mas não por isso devemos renunciar à nossa identidade específica e diferenciada, aos nossos direitos fundamentais e originários.
Contudo, os nossos povos têm se organizado e lutado contra essa violência explícita ou simbólica, que tem em muitos casos adquirido caráter institucional, mesmo a custa da criminalização, das perseguições, ameaças de morte, prisões arbitrárias e assassinatos de valentes guerreiros. Herdeiros dessa trajetória de luta é que viemos mais uma vez tornar pública e exigir de quem for governar o Brasil nos próximos 4 anos o atendimento das seguintes demandas:

1- Aprovação do Novo Estatuto dos Povos Indígenas, engavetado há mais de 15 anos no Congresso Nacional, lei infraconstitucional que deverá nortear todas as políticas e ações da política indigenista do Estado.

2 – Aprovação do Projeto de Lei e efetivação do Conselho Nacional de Política Indigenista, instância deliberativa, normativa e articuladora de todas essas políticas e ações, atualmente dispersas nos distintos órgãos de Governo.

3 – Implementação da Secretaria Especial de Saúde Indígena e efetivação da autonomia política, financeira e administrativa dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI`s), com a participação plena e controle social efetivo dos nossos povos e organizações nos distintos âmbitos, local, e nacional, a fim de evitar a reprodução de práticas de corrupção, apadrinhamentos políticos, precariedade ou ausência de atendimento humanizado nas nossas comunidades.
Que o novo subsistema garanta também o respeito e valorização dos conhecimentos e da medicina tradicional (Pajés, parteiras, plantas medicinais) dos nossos povos e o reconhecimento da categoria profissional e remuneração justa dos Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e Agentes Indígenas de Saneamento (AISAN).

4. Demarcação, proteção e desintrusão de todas terras indígenas, priorizando com urgência o caso crítico dos povos indígenas de Mato Grosso do Sul, principalmente os Guarani Kaiowá, submetidos a um processo vil de etnocídio e extermínio a mando de fazendeiros e representantes do agronegócio.

5. Não construção de empreendimentos que impactam direta ou indiretamente as terras indígenas, tais como: a Transposição do Rio São Francisco, o Complexo Hidrelétrico de Belo Monte e as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH`s) no Xingu e na região sul do país, bem como rodovias, ferrovias, portos, hidrovias, torres e linhas de transmissão e outros empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC II) para evitar estragos irreparáveis à mãe natureza, mas, sobretudo, à sobrevivência física, cultural e espiritual dos povos que nelas habitam, assegurando ainda o nosso direito à consulta livre, prévia e informada, estabelecida pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
No entanto, reivindicamos a normatização das políticas de compensação previstas em casos de empreendimentos já instalados, garantida também a aplicabilidade deste instrumento e da Constituição Federal e outros normas que protegem os direitos indígenas.

6. Fim da criminalização e prisão arbitrária de lideranças indígenas que lutam especialmente pelos direitos territoriais de seus povos e comunidades, influenciando o poder judiciário e polícia federal para que respeitem as nossas lideranças enquanto lutadores por seus direitos e não os trate como quaisquer criminosos, agilizando, em contrário a punição dos mandantes e executores de crimes cometidos contra os povos e comunidades indígenas.

7. Criação e implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas para que todo o investimento financeiro, material e humano e os resultados obtidos do processo de Consultas aos povos indígenas não sejam em vão.

8. Adequação da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) a um novo patamar da política indigenista, que não seja paternalista, assistencialista, tutelar e autoritário, em respeito ao reconhecimento da autonomia dos povos indígenas e conforme suas reais necessidades e aspirações.

9. Garantia de acesso de todos os indígenas à educação de qualidade, de forma continuada e permanente, nas aldeias, na terra indígena ou próxima da mesma, conforme a necessidade de cada povo, com condições apropriadas de infra-estrutura, recursos humanos, equipamentos e materiais, respeitando o projeto político-pedagógico próprio, calendário e currículo diferenciado, conforme a tradição e cultura dos nossos povos e de acordo com a resolução 03 do Conselho Nacional de Educação (CNE).
Exigimos ainda que o MEC crie junto aos Estados escolas técnicas profissionalizantes, amplie o ensino médio e programas específicos de graduação para os povos indígenas, assegurando ainda o ensino científico integrado com os conhecimentos tradicionais para os estudantes indígenas, a realização de concurso público específico e diferenciado para os professores indígenas, a valorização, reconhecimento e remuneração justa da categoria de professores indígenas, o reconhecimento dos títulos dos estudantes indígenas formados no exterior, a participação dos povos e organizações indígenas na implementação dos territórios etnoeducacionais e a criação de uma Secretaria Especial de Educação Escolar Indígena no âmbito do MEC.
10. Participação dos povos indígenas na discussão e estabelecimento de quaisquer medidas ou políticas públicas que os afete, tais como as discussões relacionadas com iniciativas o planos de enfrentamento da mudança climática, atualmente empreendidas por setores do governo brasileiro e organizações não governamentais, sem o envolvimento dos primeiros interessados, nós os povos indígenas, que milenarmente temos contribuído na manutenção das florestas em pé e na implementação de mecanismos de redução da emissão de gases de efeito estufa e outros serviços ambientais que até o momento não são reconhecidos e valorizados.
Salientamos que neste tema o quadro de crise é preocupante, tratando-se de uma catástrofe marcada pelas inundações, secas, processos de desertificação, degelos, desaparecimento de espécies e ecossistemas, chuva ácida, poluição urbana, águas contaminadas, transgênicos de conseqüências imprevisíveis, uma infinidade de atentados contra a vida do planeta e da humanidade.

Diante desse quadro, somos contra qualquer proposta de desenvolvimento que mesmo se dizendo sustentável não contraria a lógica marcantilista, desenvolvimentista a qualquer custo e consumo exarcerbado, dominado pela privatização d`água, das florestas, da atmosfera, enfim, da vida, rompendo a harmonia e a unidade entre vida-sociedade e cultura que milenarmente praticamos.

Esperamos que o próximo governo coloque de fato a questão indígena na centralidade das políticas do Estado, garantindo os nossos direitos de cidadãos brasileiros, mas também de povos com direitos coletivos diferenciados,  com quem esse Estado tem ainda enormes dívidas históricas e sociais por pagar.

Brasília, 20 de outubro de 2010.


Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Proposta da PNGATI validada pela CNPI

No dia 27 de Agosto de 2010, na 14ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Politica Indigenista - CNPI, a bancada governamental e indígena, deram parecer favorável a proposta de Decreto sobre a Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas - PNGATI, construído pelo Grupo de Trabalho Interministerial composto por representantes da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, Ministério do Meio Ambiente - MMA, Organizações Indígenas como COIAB, APOINME, ARPINPAN, ARPIN-SUL, ARPINSUDESTE, além de outros parceiros não governamentais como a TNC, ISA, CI, GTZ e IEB.

O Presidente da FUNAI, Márcio Meira, falou da importância que esta proposta de Decreto trará as populações indígenas brasileiras, visto que esta orientará a União e seus entes federados a apoiar e ajudar as populações a construírem seus projetos de vidas.

Elcio Manchineri (Toya) falou que a proposta do Decreto representava uma luta antiga do movimento indígena Amazónico e Nordestino, em construir algo que beneficia-se toda a população indígena brasileira, não somente a da  Amazónia e que por tanto, antes desta proposta, houve outras iniciativa como o PPTAL, PDPI e GEF Indígena, mas tudo isso para o movimento indígena se tornou pequeno. E já era tempo do Estado Brasileiro, acolher a experiência dos povos indígenas na área de desenvolvimento e preservação, transformando-a em politica publica.

Após a presentação técnica da senhora Marcela Menezes o presidente da CNPI abriu espaço para as considerações da bancada governamental, indígena e não governamental. Agora o GTI tem 20 dias para acolher as sugestões dos Ministérios e lideranças indígenas que queiram fazer as ultimas considerações no documento, e após esse período concluído será encaminhado a proposta a Casa Civil para analise e sancionamento do Presidente Luís Inácio Lula da Silva.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Manchineri em Palco

O Projeto Manchineri em Palco será realizado com as famílias Manchineri da aldeia Santa Rosa, Terra Indígena Manchineri do Guanabara, localizado nos Município de Assis Brasil e Sena Madureira – Acre.

As famílias Manchineri que habita a Terra Indígena Manchineri do Guanabara, foram os que viveram nas colônias do seringal Icuriã e Seringal Guanabara, devido à negação do direito a sua terra. Onde no passado os velhos foram expulsos da mesma, por não conhecerem os seus direitos originários sobre a terra e não ter conhecimento do instrumento legal que os orientassem.

Devido á isso, muito utensílios da sociedade envolvente passaram a fazer parte da realidade cotidiana dos mesmos em detrimento de muitos utensílios de sua própria cultura. Mas essa realidade não enfraqueceu o desejo de manter viva, objetos da cultura que fortalece a identidade da comunidade e o sentimento de pertencimento ao povo.

As atividades serão desenvolvidas por meio de oficinas, sendo: 1) Cerâmicas Manchineri, 2) Vestimentas Tradicionais, 3) Pinturas Corporais, 4) Instrumentos Musicais Manchineri, 5) Arquitetura Tradicional e 6) produção de um DVD com todo o processo de revitalização dos conhecimentos culturais, que será utilizado entre os Manchineri mais jovens, as famílias, as crianças das escolas e também para divulgar junto as instituições formadoras de opinião.

A metodologia utilizada será de interatividade entre os velhos da Terra Indígena Mamoadate e Manchineri do Guanabara que ainda detém os conhecimentos mais ancestrais com as famílias da aldeia Santa Rosa.

As oficinas serão orientadas por assessoria antropológica e metodológica, que facilitarão as famílias na análise nos aspectos culturais e na construção e organização dos textos.

O projeto será desenvolvido na aldeia Santa Rosa, com a participação de famílias representantes da Terra Indígena Mamoadate, para troca de informações e intercâmbio de conhecimentos.

O parceiro financiador do projeto será o Museu do Índio/FUNAI, através da linha de financiamento Ação de Promoção das Culturas Indígenas.