domingo, 18 de novembro de 2012

Origem das Plantas Comestíveis


Pité Lauriano Manchineri - Autor
Manchineri não tem muito conhecimento de como surgiram os legumes. Segundo nossa história, desde muito tempo havia pessoas morando nesta terra. Nesta época havia um homem muito trabalhador e bom com arco e flecha. Também havia outra família que tinha quatro filhas solteiras.

Certo dia, esse homem foi a casa dessa família, pedir a mão da filha mais velha ao pai, e ele a entregou. Após três dias, o homem levou a filha mais velha para sua casa. Depois de três dias que estavam lá, o rapaz fala para a sua mulher que vai caçar.

Ao retornar da caçada, traz muita caça em suas costas, após colocar os animais na cozinha, ele chama sua esposa para tratar os animais, e pede para que ela prepare a carne toda assada. Após comer toda carne assada, ele chama sua esposa e a mata para complementar sua refeição, deixando somente a cabeça, este a coloca embaixo de uma arvore de Sumaúma.

No dia seguinte, bem cedo, o rapaz foi atrás do seu sogro para avisá-lo que sua filha havia desaparecida no dia anterior, quando ele estava na mata. Próximo a casa de seu sogro, começou a chorar bem forte para que o sogro não desconfie dele.

Uma das irmãs da finada ouviu um choro que vinha da direção do caminho e avisou ao pai, que foi encontrá-lo. O rapaz contou para o sogro que a sua filha tinha desaparecida. “Ontem fui caçar e acho que a onça matou a minha mulher!” Ao receberem esta notícia, a família toda ficou muito entristecida.

Passado alguns dias, o rapaz começou a namorar a segunda filha. Ele ficou na casa da família da mulher, ia caçar e trazia muitas caças para comerem. Durante os dias que o rapaz estava com eles, comia bem pouquinho, foi por isso que ninguém percebeu como ele era. Daí pediu a segunda filha em casamento e o pai aceitou novamente. Igualmente, passou poucos dias na casa do seu sogro, levou sua nova mulher para o mesmo lugar onde ele matou a primeira filha. Dizem que o sogro deu-lhe conselho para ele não a deixar sozinha, tudo foi combinado.

Chegaram lá e foi à mesma coisa, ele inventou de caçar e quando voltou, matou de novo a sua mulher e a comeu.

Ele fez a mesma coisa, voltou para casa de seu sogro fazendo como aconteceu com a primeira e a segunda: ficou de novo uns dias namorou a terceira filha. Igualmente a levou e a matou como fez com as outras filhas. Voltou para a casa do sogro.

O velho ficou só com uma filha, que era a sua caçula. O homem a namorou e a levou, como levou as outras. Só que esta era mais esperta. Quando ela chegou nesse lugar, ficou um pouco desconfiada.

Antes de o homem ir caçar, falou para ela não sair de casa porque ali era um lugar onde suas irmãs desapareceram. Disse que tinha uma árvore de sumaúmas bem grande mais ou menos, a uma distância de 50 metros, que não era para a moça sair para nenhum lugar e nem se aproximar daquela árvore.

Quando passaram poucos minutos que ele sumiu, chegou a coragem da menina. Ela disse: “Por que será que ele me proibiu de sair para canto algum?” Levantou-se e foi embora espiar a árvore de samaúma.

Quando foi mais para trás viu três cabeças podres com todo o cabelo.

Daí ela voltou, quando chegou à barraca pensou muitas coisas. Quis fugir! Mas depois ela disse: “Não, Vou esperar até ele chegar!”.

Ela subiu numa árvore que havia bem próximo da casa. Com pouco tempo o cara chegou carregado, trazendo todo tipo de bichos da mata. Começou a chamá-la. Chamou, chamou e chamou até que ele cansou. Começou a preparar a comida. Foi assando e comendo, até que acabou tudo.

Então, começa a chamá-la novamente. Quando ela estava para responder. Ele falou: “Ah, você adivinhou que eu ia te matar e te comer?! Igualmente como fiz com tuas irmãs!” Ele não tinha mais nada de carne para comer. Dizem que ele pegou na sua barriga: “Aqui está ainda mole!” A mulher estava escutando tudo que ele falava. De repente o homem diz: “será que a minha própria carne também é boa?” Pegou a faca e começou a cortar a carne de sua perna esquerda, botou fogo e comeu bem rapidinho. Continuou, cortou o outro lado da carne de sua perna e quando tentou caminhar, ele disse: “Ah! Ainda posso andar!” Daí cortou mais de sua carne, tentou andar e não podia mais ficar em pé. Quando a mulher viu que ele não podia mais andar, desceu da árvore e disse para ele: “Agora você me paga! Foi você mesmo que tinha matado as minhas irmãs”. Naquela hora, quando viu a sua mulher, ele falou: “Oh, minha mulher! Tenha compaixão de mim. Já estou desse jeito, me ajude!”.

A mulher foi buscar um maço de pilão e abarcou na cabeça dele e ele morreu. Após matar o marido ela foi embora para a casa de seus pais. Quando estava bem pertinho de chegar, começou a chorar de saudades das suas irmãs.

Quando os pais ouviram o choro de novo, disseram: “Agora estamos sem filha!” Quando apareceu a sua filha, perguntaram o que tinha acontecido com ela. Depois de poucos minutos, ela contou que tinha achado as cabeças das suas irmãs, que não foi a onça que as matou, foi o marido delas que as tinha comido. Ela contou para os seus pais. O pai perguntou onde ele estava, e ela: “Eu já o deixei morto”. O pai mandou seus filhos, que eram casados e moravam em outro lugar, ver o homem. E após três dias foram olhar o corpo que já estava em decomposição.

Pegaram o corpo e enterrarão em seu quintal. Três meses depois que aconteceu tudo isso, quando foram passando por esse mesmo lugar, viram que na sepultura, havia nascido algumas plantas: dos testículos nasceu o inhame; do dedo da mão nasceu cana; da barba nasceu murmuru; do dedo do pé nasceu pupunha; da tripa nasceu cipó e das outras partes do corpo brotaram muitos tipos de plantas comestíveis e medicinais.

Esta é a história que o povo Manchineri conta de como surgiram alguns legumes e ervas da mata.

 

Jaime Llullu Sebastião Prischico Manchineri

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

POR UMA COIAB MAIS FORTE EM 2012


Para fortalecer o movimento indígena amazônico no ano de 2012, acontece em Manaus, capital amazônica do Mundo, de 27 a 31 de março, a Assembléia Extraordinária da COIAB que tem como principal objetivo discutir as atuais questões de sustentabilidade financeira da entidade que é uma das maiores organizações indígenas do país. O evento reunirá 100 lideranças indígenas representando os nove estados da Amazônia Brasileira.
De acordo com Marcos Apurinã, coordenador geral da COIAB, o momento é propício para a realização do evento, tendo em vista os acontecimentos previstos para 2012 como a RIO+20, por exemplo. “A nossa organização passa por algumas dificuldades e é importante que as lideranças possam participar dessa assembléia com suas propostas, para encontrarmos soluções para as dificuldades que enfrentamos”, disse.
Entre os assuntos em pauta na Assembléia destacam-se a reestruturação do CONDEF – Conselho Deliberativo e Fiscal da COIAB, que é a instância máxima de decisão da COIAB que hoje é presidido pelo Sr. Agnelo Xavante. Também será discutida a atual composição da COIAB que está atuando somente com dois dos seus coordenadores.
Sustentabilidade Financeira – Segundo o coordenador geral da COIAB, o convênio com a FUNASA no atendimento à saúde indígena nas comunidades do Amazonas deixou uma sequela muito grande. “Até hoje estamos pagando por um preço que não devemos. A COIAB foi muito prejudicada. Já resolvemos as dívidas trabalhistas, porém ainda há as operacionais e as dividas fiscais. Outras organizações também foram prejudicadas pelo convênio como a UNI (Acre), CUMPIR (Rondônia), OPIMP e CIVAJA (Amazonas). A impossibilidade de receber determinados recursos tem nos atrapalhado bastante. Entretanto, as agendas continuam acontecendo e a nossa luta não para. Esse é o compromisso que assumimos”, afirmou.
Para a liderança Apurinã a sustentabilidade do movimento indígena precisa, em algum momento, vir do próprio movimento, da sua base, conforme foi colocado em junho de 2011, no Diálogo das Lideranças da Amazônia, um encontro das novas e antigas lideranças do movimento indígena amazônico, realizado pela COIAB, em parceria com a FOIRN – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. “Estamos com objetivos claros para esse ano. O Parlamento Indígena é uma realidade que precisamos construir. A nossa autonomia enquanto movimento deve partir dessa demanda. Unidos somos bem mais fortes”.

Fonte: Setor de Comunicação da COIAB.